Guerra Junqueiro, 1850-1923, foi o que se pode chamar um canivete suíço: deputado, jornalista, escritor e poeta, entre outras coisas. A sua poesia ajudou a criar o ambiente revolucionário que conduziu à implantação da República.
O seu texto mais marcante foi, sem dúvida, o que a seguir transcrevo. Há quem reclame, em termos de qualidade e beleza, um nível idêntico aos Os Lusíadas (ok, sabemos que Os Lusíadas é uma obra de diferente contexto e envergadura mas percebe-se a ideia da suposta comparação).
Escrito em 1986, critica a situação política de Portugal no final do século XIX. Na altura, reinava D. Carlos. A sua actualidade, triste e tragicamente, leva-nos a pensar que Portugal está mesmo parado no tempo.
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Pátria
Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta.
[.] Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro.
Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País.
A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.
Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar.
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Engraçado e curioso raramente ligarmos aos nomes das ruas por onde passamos no nosso dia-a-dia que não seja apenas pela sua localização; eventualmente e no mímino, interrogarmo-nos. Esquecemo-nos – talvez pela pressão em que vivemos – de que, por detrás de um nome a quem foi “dada” uma rua, está alguém que merece ser recordado ou conhecido.
Neste caso, a “Guerra Junqueiro”, ou melhor, a Av. Guerra Junqueiro está entre a Praça de Londres e Alameda D. Afonso Henriques – LIsboa, por onde passo vezes sem conta e tem no seu topo a histórica pastelaria Mexicana (que já quiseram transformar em banco).