domingo, 22 de abril de 2007

Monogamia e fantasias de traição...

Estas "coisas" do sexo também fazem parte do nosso dia-a-dia e, em grande parte dos casos, com uma intensidade de tal maneira forte que, por vezes, nos podemos assustar... mais ainda quando esse mesmo sexo assalta os nossos pensamentos e suposta tranquilidade em ondas tão terríveis que nos fazem pensar se seremos "normais" ou, quicá, pervertidos...
Talvez por isso mas também porque gosto de entender o que se passa nestas cabecinhas da condição humana - defeito profissional, talvez, que me leva a tentar racionalizar o possível e o impossível - tenho dedicado algum tempo a livros que perseguem também esteu meu objectivo. Entre eles, encontra-se o Sexo e Amor, de Francesco Alberoni, autor de outros livros de temas similares. Transcrevo uma das várias partes deste mesmo livro pois creio, ou melhor, acredito, que este tema faça parte do nosso cotidiano mais íntimo. É uma abordagem que procura ser mais, muito mais, científica do que a que temos vindo a ler nas revistas vulgarmente conhecidas como "côr de rosa".
Tem igualmente outras questões que, mais tarde, partilharei com todos vocês.
Enjoy... :)

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«Monogamia?», diz sorrindo o sexológo a Joseph. «Mas como pode definir monogamia a relação que tem com a sua mulher? Disse-me que vivem juntos há dez anos, que a ama, que nunca a traiu, que está satisfeito sexualmente. Mas, desde a primeira vez que fez amor com ela, imaginou fazê-lo com outras mulheres que tinha tido antes. E sempre lembrando ou imaginando uma história verdadeira. Por exemplo, imaginando fazer amor com uma rapariga pela qual estava apaixonado. Ou estar num hotel para onde alguns homens tinham trazido uma prostituta - uma história que nem sequer é sua, mas que ouviu - possuindo-a um depois do outro e, no final, chamaram tambem o empregado. E enquanto penetrava a sua mulher, imaginava ser um deles.»
«Bom, eu não disse que de cada vez que faço amor tenho de inventar uma história ou ter uma fantasia. E, na última história, fique claro, a minha mulher não era a prostituta, era mesmo ela. Eu amo a minha mulher, não só é a única pessoa com quem poderia viver, mas é também aquela de que gosto mais. Para mim, a minha mulher é a mais bonita do mundo, nunca a trocaria por outra, nem sequer pela Nicole Kidman. Na fantasia imaginava que estivesse no lugar da prostituta.»
«Mas, pense bem nisso», observa o sexólogo, «se para conseguir o orgasmo precisa de a pôr no lugar da prostituta e de imaginar ser um dos homens que a possuem, quer dizer que, assim como ela é, não basta. Por isso, no seu pensamento será monógamo, mas na realidade é polígamo e para satisfazer esse desejo transforma a sua mulher noutras mulheres. Diga-me outra coisa: de onde tira o material para as suas fantasias?»
«De todas as experiências do meu passado, quer dizer, só dalgumas significativas que me impressionaram. Por exemplo, uma rapariga disse-me que durante o Verão ia dançar, encontrava uns homens e quando se dava conta de que ficavam excitados convidava-os para sair e tentava contentá-los, dizia assim, "contentá-los". Então imagino ir dançar naquele sítio, vê-la, chamar-lhe a atenção, a seguir ela toca-me, excita-me, leva-me para fora, diz-me que me quer contentar e logo começa a...»
«E entretanto penetra a sua mulher.»
«Pois, o corpo da minha mulher, um corpo de que gosto muitíssimo, a outra devia ser feia.»
«Mas teria gostado de fazer aquela experiência.»
«Nunca pensei ir à procura dela, caso que fosse possivel. Mas se tivesse acontecido, acho que sim, teria gostado.»
«Vê? Ficou com o desejo insatisfeito daquela mulher, daquela experiência e agora satisfá-lo com o corpo da sua mulher. Você usa o corpo da sua mulher para satisfazer um desejo não realizado, para viver aquilo que não tinha vivido. No fundo, deseja a outra.»
«Nao, nao desejo a outra. A outra é uma coisa do passado, já não me interessa, é uma simples fantasia. Olhe, deixemos esta história dos desejos insatisfeitos. Eu tenho fantasias com episódios em que me senti satisfeito, com outros que só imaginei e outros ainda dos quais apenas ouvi falar. É como se fizesse representar a minha mulher os papéis das mulheres que tive na minha vida ou que imaginei. Sou como um realizador de cinema que faz muitos filmes com a mesma actriz. Eu trago comigo todas as minhas histórias eróticas, reais ou imaginárias e incluio sempre ela.»
«Entao trai-a sempre.»
«Sim, é verdade que a traio sempre, mas é verdade também que nunca a traio e que, pelo contrário, traio todas as outras. Porque vivo tudo nela, ponho todas as outras nela, todas as mulheres que tive e que imaginei. E se calhar nao sou o único. Li um livro de uma americana no qual se diz que também as mulheres têm umas fantasias incríveis enquanto fazem amor. De ser violadas, de ser possuídas par muitos homens.»
«Porque são insatisfeitas. A fantasia é a satisfação alucinatória do desejo.»
«Bom, quer dizer que eu sou pavorosarnente insatisfeito e cheio de desejos frustrados porque sempre precisei de ver, imaginar, fantasiar. Se calhar eu desejo realmente todas as mulheres do mundo, mas depois, por qualquer razão misteriosa, amo só uma, gosto só dela, e não poderia viver, respirar sem ela, enlouqueceria à ideia de que ela me deixe ou morra. E entao faço-a representar tudo aquilo que me passa pela cabeça e nao lho digo porque não sou tão parvo para arriscar perdê-la. Se calhar, no grande amor há de tudo, também a poligamia, também a contradição, tudo...»
«Entao tente imaginar que também a sua mulher, cada vez que faz amor consigo, está a pensar que o faz com outro. Está consigo, mas pensa noutro, está consigo, mas, na realidade, fode com outro. Pense nisso e diga-me o que sente.»
«Não me sinto à vontade. Acho que queria perguntar-lhe zangado: e agora com quem estás a foder, puta? Sinto-a distante, ausente, como se a perdesse... Mas olhe que é tudo errado. Aliás, sabe o que lhe digo? Que, ao sabê-Io, começaria eu também a imaginar que ela esta a fazer amor com o marido precedente ou com um namorado, ou com um amante e imaginaria que lha roubava... Sim, por um lado, ser ele que a fode, e, ao mesmo tempo ou logo a seguir, estar só eu enquanto ele já nao está. E sabe porque é que posso fazê-Io? Porque a amo e sei que ela me ama. A minha mulher teve outros homens antes de mim. Falou-me neles, mas disse-me: tu és a único que amo, o resto passou, estás só tu, vais ficar só tu. Naquele momento, eu englobei todo a seu passado, todo o seu futuro, também os seus amantes, e posso imaginar tomar a lugar deles. Já lho disse antes: o grande amor pode devorar tudo, tomar tudo, possuir tudo.»
Que Joseph tem razão mostra-o outro caso contado par Ilda Bartoloni (Come lo Fanno Ie Ragazze) onde Diana está profundamente apaixonada por Pino e vive há dez anos com ele. Às amigas que a criticam por dizer que tem uma vida sexual fantástica com o mesmo homem e que não deseja mudar, responde: «Sei que a alquimia [...] com o corpo do Pino é o máximo que eu posso conseguir porque realmente gosto muitíssimo quando faço amor com ele.» Mas esta extraordinária vida amorosa concilia-se perfeitamente com as fantasias. De facto, a rapariga diz: «Muitas vezes, nas minhas fantasias, há outro homem ou outra mulher. [...] Um põe-me o seu pénis na boca enquanto o Pino mo enfia no rabo, ou penetra-me e a outro chupa-me as seios, acaricia-me, ou sou eu que faço algumas coisas e há outras pessoas a olhar para nós, só homens e depois... se as fantasias te cansarem podes sempre mudá-las. Entre nós falamos delas até aos pormenores, para nos excitarmos ao máximo.»

6 comentários:

Sabina disse...

Ok, eu vim ler... a sorte é que o blog começou apenas em Janeiro ;-)

Sobre este tema...demasiado complexo para eu o poder comentar em meia duzia de caracteres ;-)

Bjos

Marrie disse...

Monogamia.... tentativa geralmente frustrante do ser humano esquecer sua natureza selvagem e instintiva!
De uma forma ou de outra - real ou imaginária - sempre cairemos em tentação!
Marrie
bjs

Anónimo disse...

como já disse... a fantasia é dona e senhora. impera no império da mente onde tudo é possível... até a infidelidade fiel. ou será fidelidade infiel? whatever... desde que os parceiros em qualquer relação se sintam felizes! vivam as fantasias!!!

camas e algemas disse...

Bela escolha do texto.
Para mim a fidelidade é uma fidelidade de sentimentos, de amizade, de estar com sou precisa...lealdade no verdadeiro sentido da palavra. Não acredito que uma simples penetração possa destruir todos estes sentimentos. Agora tudo depende dos dois e da maneira como se vivem as coisas.
Beijocas

carpe vitam! disse...

belo post, muito pertinente para mim, obrigado. a mente é aquela parte de nós que tem pode ser verdadeiramente livre para pensar tudo o que quiser sem restrições, mas uma questão que temos de nos colocar é se estamos preparados para as consequências do pensamento livre.
um livro a propósito de monogiamia: http://www.bertrand.pt/cache/process_html_404.asp?ido=livro__q1livro_--_3D43775__q20__q30__q41__q5&ida=

Stargazer disse...

Olá!

Gostei muito deste teu post. O ser humano não é monogâmico, ponto. Teimam em prender-nos em virtuais camisas de forças socialmente aceitáveis.

Ora se no reino animal só os gansos o são, porque não há-de o ser Humano ser igual à maioria dos animais?

Bjs sem culpa de uma suposta devassa...se queres saber mais sobre monogamia passa por lá.