Não resisto a transcrever para aqui um artigo brilhante do António Perez Metelo, publicado no Diário de Notícias, com o título “Agora é connosco” e que resume, de uma forma perceptível e em meia dúzia de palavras, o que se passou no crash de 2008-2009 e que afectou todo o mundo.
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O espírito empreendedor e prático dos norte-americanos tem como contraponto a necessidade de saber ao certo o que explica que as coisas tenham corrido mal quando é esse o caso. Foi esse o caso com o rebentamento da bolha dos créditos hipotecários nos EUA em Agosto de 2007, tiro de partida para a Grande Recessão de 2008-2009, que se estendeu a todo o globo. Como já acontecera no rescaldo da Grande Depressão, iniciada no Outono de 1929, o Congresso dos EUA cuidou de saber porque é que se deu esta nova crise de dimensão global. Phil Angelides, presidente da Comissão de Inquérito à Crise Financeira, apresentou em Fevereiro de 2011, ao fim de um ano e meio de inquérito exaustivo, o relatório de 700 páginas e as suas conclusões, que hoje já parecerão muito inconvenientes: 1) Falhas generalizadas na regulação e supervisão financeira, devastadoras para a estabilidade dos mercados financeiros; 2) Falhas dramáticas na gestão de risco e das próprias empresas financeiras; 3) Empréstimos excessivos, investimentos arriscados e falta de transparência de um sistema financeiro em rota de colisão com a crise; 4) Falta de consistência na resposta do Governo aumentou a incerteza e elementos de pânico nos mercados financeiros; 5) Quebras sistémicas na responsabilização individual e na ética nos negócios; 6) Colapso dos critérios mínimos prudenciais no mercado imobiliário e securitização maciça espalharam a crise; 7) Os derivados financeiros fora de balcão potenciaram a crise; 8) As agências de rating erraram muito e foram uma peça fundamental a espalhar a destruição financeira. Conclusão: a crise financeira era evitável.
Analisar com rigor os factos passados serve sobretudo para evitar a repetição de erros no presente e no futuro. Hoje, a crise deslocou-se do sector imobiliário para a finança e desta para o comércio mundial, da quebra na procura global para a subida brusca dos défices públicos e destes para a dívida soberana de vários países membros do euro. A pergunta que se impõe é se não estarão a repetir-se erros, omissões e distorções na condução desta última fase da crise. O Parlamento Europeu não deveria poder responder a esta questão?
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