Já anteriormente aqui deixei expressa a minha aversão por discussões, no mau sentido da palavra. Versem elas o tema que seja, simplesmente não gosto. Estou sempre na minha e aceito que cada um possa estar na sua. A aversão aumenta quando se trata de temas como religião ou e principalmente, política. Subjectividades são coisas que merecem e têm que ser respeitadas.
Vem esta declaração a propósito de um comentário que li no Expresso desta semana sobre investimento em Portugal a que o autor, Nicolau Santos, chamou “Investir no Manicómio” e que mais à frente transcrevo.
Dizem as regras da democracia que o voto é secreto. Sim sim, deveria ser e até levava a sério tal regra há anos atrás quando ainda acreditava ou tinha esperança que a política poderia ser algo de muito sério. Só que a política é feita por pessoas – leia-se condição humana - e, quando não existem métodos de controlo muito sérios e eficazes, o descalabro é total pela procura constante de benefícios pessoais, esquecendo tudo o resto.
O voto tem sido algo hilariante, com escolhas que nada têm a ver com os programas de cada partido ou candidato. As opções de voto vão mudando de eleição para eleição ao sabor do chamado “voto útil”. Eu próprio já votei em vários partidos e, ultimamente e para não me acusar de preguiça ou de um “não te queixes agora porque nem votar foste”, tenho votado em branco. Ou seja, através do boletim de voto, anuncio ao mundo que estou farto de todos eles, não colocando a minha cruzinha em qualquer partido.
Este ano foi diferente. Nunca votei no PCP nem no Bloco de Esquerda. Resta-me, portanto, CDS, PSD e PS. Já andei por todos eles. Desta vez, só me resolvi dois dias antes das eleições (falamos de legislativas 2009). Fui pensando… O Paulinho dos submarinos e das feiras, não dá para pensar pois é um partido em que tudo gira à volta de uma só pessoa. PSD tem andado virado ao contrário, vivendo das suas lutas internas (Ferreira Leite a dar tau tau ao Passo Coelho e, por consequência, a todos os seus seguidores), principalmente desde que o Barroso foi à sua vida e deixou o Santana dos viadutos em seu lugar. PS é complicado mas, pelo menos, haja quem mande e, neste caso, lá anda o Sócrates – mal ou bem – em todo o seu esplendor. No mínimo, as responsabilidades estão assumidas, com a maioria que teve estes quatro anos, sem assim haver motivo para invocar culpas aos outros partidos. E, por todos estes motivos, resolvi votar PS desta vez, numa tentativa de ajudar a alcançar uma nova maioria que, a não ser conseguida, iria conduzir – como já está a conduzir – a uma bagunça sem precedentes e que em nada faz falta a este período de “início de saída da tão e bem chamada crise internacional”. A maioria não foi alcançada, todos os outros partidos reclamaram vitória por tal motivo, todos muito contentes, e agora “todos” se lamentam com o cenário pelo qual votaram. Realmente, é, no mínimo, hilariante !!!
Moro em Lisboa e, quanto às eleições das autarquias, fico também um bocado confuso. Vejo um António Costa a mandar, nesta altura, carta aos seus funcionários dizendo que os vai aumentar com rectroactivos desde Janeiro 2009 enquanto o Santaninha maluco e dos viadutos aparece como possível alternativa. Lembro que António Costa diz que vai melhorar transportes públicos – pelo menos, diz – e isso sim, seria uma bela solução. Só que, com tudo o mais que tem feito, lá fico outra vez a pensar se vou votar em branco ou nele. Se nele, a ideia seria uma maioria absoluta para depois não ter desculpas que foi impedido pelos outros partidos de não ter feito mais porque não o deixaram. Enfim, a mesma lógica das legislativas.
Porra ! Acho mesmo que algumas regras na dita democracia deveriam mudar. Posso estar a dizer grande asneira mas se o partido vencedor, independentemente das percentagens, pudesse governar, durante o período para que foi eleito, como maioria, tudo seria bem mais fácil. Claro que teriam que existir mecanismos de controlo mas que seria bem mais fácil, isso sim.
Poderia alongar-me bem mais mas não vale a pena. É a tal coisa… discussões de política são sempre endless… e, neste meu caso, foi mais uma opinião, talvez um pouco distorcida pelo tal comentário que falei acima e aqui a seguir transcrevo:
Investir no Manicómio
Imagine que chega a um país interessado em investir e lhe dizem que o Presidente e o primeiro-ministro estão politicamente em guerra aberta. Que o Governo recém-eleito pode cair dentro de seis meses a dois anos. Que o Presidente da República pode não ser reeleito dentro de dois anos e meio. Que a economia está numa profunda recessão (3,7%) que o défice orçamental rondará os 7%, que o desemprego atinge 600.000 pessoas numa população activa de 5,2 milhões, que o endividamento líquido externo duplicou numa década e representa mais de 100% do PIB (produto interno bruto, para quem não saiba ou se recorde – nota de shelyak). Que faz você ? Nem sai do aeroporto. Regressa ao seu país no primeiro voo que houver.
Infelizmente, este país é uma ficção. Mais infelizmente é o nosso. E, no plano económico, a imprevisibilidadde é absoluta. O que vai acontecer com os grandes investimentos públicos ? Avança o TGVe é adiado o novo aeroporto ? E a terceira travessia do Tejo ? Todos os outros compromissos se mantêm (novas concessões rodoviárias, extensão das redes dos metros de Lisboa e Porto, dez novos hospitais públicos, novos compus de Justiça e novas prisões ? Ou o apoio (e/ou abstenção) do PSD e CDS à proposta do orçamento do EStado 2010 implicará , como contrapartida, que o PS deixe cair algumas destas obras ?
E que Orçamento vamos ter ? Um que continue a apoiar empresas e famílias face à crise e ao desemprego ? Ou, à semelhança de Espanha, vai haver desde já subida de impostos e diminuição de benefícios fiscais ?
A crise já tinha levado os agentes económicos a serem muito prudentes. A instabilidade política vai agravar esta prudência – e os investimentos serão adiados de novo. O resultado, inevitável mas muito pouco desejável, é que a nossa retoma ocorrerá depois e de forma mais lenta que a dos outros países europeus. Ninguém investe em manicómios.