sexta-feira, 9 de abril de 2010

É assim a Vida, quer queiram quer não…


A natureza humana é do mais complexo que pode existir. Se quando isolada, ou seja, uma pessoa por si só, é complexa, numa relação a dois mais se torna ainda. Não se pode esperar nunca que os pensamentos, desejos, fantasias, vontades, actos de cada um deles possam estar de acordo com as expectativas do outro(a). 

Todos nós temos um passado e presente, para não falar em futuro. E o passado e presente faz-nos conviver com um sem número de pessoas no nosso dia-a-dia. Existem, no mundo, mais de oito mil milhões de seres humanos e seria impossível não nos sentirmos atraídos ocasionalmente por alguém. Mais ou menos frequentemente, mas acontece. Nos nossos círculos de conhecimentos, ficaram para trás, em regra, relacionamentos que ficaram mal ou bem resolvidos e mesmo estes últimos podem ter deixado alguma saudade que pode bater mais ou menos forte por esta ou aquela razão. O mesmo se passa relativamente ao presente: sentirmo-nos atraídos por alguém com quem nos possamos cruzar. Seja essa atracção mais ou menos duradoura, mais ou menos intensa. As consequências de tais sentimentos determinam uma maior ou menos estabilidade da nossa vida sentimental.

Todo este turbilhão de emoções e sentires com que nos deparamos diariamente – não estamos sozinhos no mundo – são como pesos num dos lados da balança de sentimentos que vivemos. Num dos lados, a novidade, a saudade, o desconhecido, o proibido. No outro lado, a relação estável que temos com a pessoa que amamos. Um equilíbrio posto à prova constantemente. Talvez dos equilíbrios mais difíceis de se alcançar.

Tudo isto é uma realidade a que a maior parte das pessoas – leia-se casais – tem uma maior dificuldade em aceitar e entender. O sentimento de posse é temível pelo receio que cada um tem de poder perder o ente amado. E aí o ciúme impera, o despeito reina, o orgulho fere. Muito também devido às circunstâncias em que se é confrontado com tais situações. Mesmo em casais que juram, um perante o outro, não haver lugar nunca a mentiras ou omissões, as coisas falham por vezes. Não por má fé mas sim por querer não ferir a outra parte, caso um deles se sinta atraído por um terceiro(a). Mesmo que momentaneamente. Coisa passageira ou não. Sexo ou não. Sem importância para o relacionamento fixo. Aqui tudo depende do casal. De ambos. Como gerem todo este tipo de situações.

Por mim aceito e entendo tudo isto. Desde que em boa fé. Nunca fui pessoa de me revoltar ou reagir mal se me confrontar com a perda de alguém que ame para uma terceira pessoa. Fico triste? Sim, claro. Uma mágoa de morrer. Mas não se pode ou deve acusar ninguém de se poder sentir atraído por uma terceira pessoa. Não comandamos o coração (ou o tesão), sob pena de nos castrarmos ou termos uma vida infeliz. E isso, nunca. Quando estamos na nossa intimidade, nos nossos pensamentos, tanta coisa que, mesmo sem querermos, nos invade. E se gostamos, continuamos. Porque é apenas de cada um e de mais ninguém. Os pensamentos, feliz ou infelizmente, não têm legendas. E talvez seja bom esgotar desejos e fantasias. Quando não são sólidos, passam rápido. Ou relativamente rápido. Para depois se esvaziarem.

Se vejo que uma relação apenas tem coisas boas, sempre do agrado de ambos, sem quaisquer choques, mentiras, omissões ou tristezas, desconfio. Porque é impossível cada uma das pessoas não sentir desejos por terceiros, uma vez por outra. E se tais situações são “existentes” na relação e portanto não partilhadas só pode ser por serem escondidas, um perante o outro. E isso não gosto, não quero. Sentir-me-ia como fazendo parte do universo dos casais tradicionais. Os que mentem, enganam, escondem. Em nome do “não ferir o outro”. Não, isso não quero. Nunca. Porque aí, a desconfiança instala-se e a relação degrada-se. O ciúme, aí sim, aparece e corrói. Destrói.

Sempre gostei de sexo. Muito. Em todas as suas vertentes. Sei que podemos e sentimos tesão por terceiros, embora possamos amar profundamente a pessoa da nossa vida. Mas isso é animal. Gozo apenas - há também que contar com as amizades coloridas. Por vezes até nos faz amarmos ainda mais a pessoa dos nossos encantos. Complicado entender tal coisa? Sim, pode ser muito complicado mas é assim mesmo que as coisas são. Sem tentar encontrar explicações.

Quando sentimos que, ocasionalmente, a(o) nossa(o) parceira(o) tem a coragem de partilhar tudo, mas tudo, connosco, aí a confiança na relação é sólida e, podendo parecer um paradoxo, tudo é possível. Mesmo o concretizar de todas as fantasias…  Quando tal não acontece e tudo é aparentemente um mar de rosas, é sinal que algo vai mal e aí a desconfiança e suas consequências instalam-se…

7 comentários:

gabrielle disse...

li-te, e gostei muito de te ler.
fizeste-me pensar...

não acredito em relações perfeitas, mas deduzir que a não existência de "conflitos" é sinónimo de mentira, parece-me algo precipitado.

confesso que ficarei a pensar neste tema.

beijinho

Unknown disse...

Também não sei se a não existência de conflitos será um mau presságio, ou indicador da total partilha entre um casal, mas estou em crer que a tua intenção era dizer que é mais fácil esconder (desejos ou até actos) para satisfazer o outro elemento do casal, sacrificando uma opinião, sentimento, etc, com a tal premissa e "desculpa" de tentativa de harmonia para não ferir. Sendo, por isso, normal haver divergências em opiniões e até atitudes (essas diria que até são as que mais custam admitir e que podem mais facilmente levar aos tais conflitos). E só com a transparência dos dois lados se chega, então, à tal confiança máxima que referes.
No entanto tudo se resume às últimas linhas do penúltimo parágrafo e primeiras linhas do último.

Como disse a Gabrielle "Fizeste-me pensar" e olha... Deu este testamento.

Corrige-me se estiver errada, por favor.

Anónimo disse...

Quem tem um relacionamento forte e estável de anos, essa partilha é natural e todos os “devaneios” serão bem vindos para apimentar ainda mais a relação.
Não percebo como tal acontece com 1 ou 2 anos de relacionamento, onde tudo ainda deveria ser um “mar de rosas”. O que se conclui é que o relacionamento não é de amor e/ou paixão, mas movido por interesse.
Mais, para isto ser natural, as 2 pessoas terão de ser maduras e terem confiança em si mesmas/gostarem de si próprias. Quanto mais liberdade dermos à outra pessoa, maior será o sentimento de amor que ela nutre por nós!

dermatologistested disse...

1:Pena que não estejas a 100% ou lá perto ;que perfeição é coisa que não existe.
2: relações com honestidade em pleno, existirão muito poucas, e aí...se calhar...o fio condutor da relação será mesmo a crueza pura e dura da honestidade, acho eu que... muito intensas e gratificantes, mas que nos aparecem na vida uma... ou duas vezes , com muita sorte.
3: outra coisa é gostarmos de uma relação com "picos de impulso" que o outro nos provoca (tudo incluído : afectivo, fisico, intelectual etc) quando isso esmorece ou não é à velocidade ou quantidade que desejamos, a coisa esfria...
4. as vezes criamos expectativas quanto ao outro a que ele não corresponde... nem tem que corresponder!!! o outro é o outro e não tem que ser aquilo que eu desejo... as vezes demora tempo a entendermos isso, e temos que interiorizar que também não correspondemos sempre á expectativa do outro...
e por último , que a coisa já vai longa... uma história verídica ,que me ficou na memória e vai de encontro a um paragrafo de cima... um relacionamento com uma mulher perfeita, fisicamente muito desejável (presumo que me queriam dizer que era podre de boa...)intelectualmente compativel e muito estimulante, sexo do melhor,etc... um mar de rosas... e então, porque acabou? (perguntei). Era tudo tão perfeito,mas mesmo tão perfeito, que me começou a incomodar...houve um dia que deu uma forte vontade de jantar ( não me lembro o prato especifico...mas não seria uma coisa muito comum) e quando cheguei a casa era o que estava em cima da mesa.
... Nem jantei, fiz as malas e vim-me embora.

uffffff, já não escrevo mais... lamento, mas terás tu que encontar a resposta que te satisfaça...

hoje deixo abracinho.

DoisaboresEle disse...

Não há relacionamentos perfeitos...
Tudo é diícil, mas quando existe boa fé, partilha, amor e respeito as coisas podem funcionar...
Magoar o outro é tão fácil... Perdoar é difícil...
Viver a 2 não é fácil e nunca o será...
Beijos

Anónimo disse...

Apesar de ser um "outsider" nesta matéria, considero que se juntarmos tudo o que aqui foi escrito poderemos aproximarmo-nos da complexidade que são os sentimentos.
Pensei dissertar um pouco sobre este assunto mas acho que a minha opinião não seria tão válida comparada com a de alguém que viva uma relação estável. Sei que não existe uma "fórmula perfeita" para as relações estáveis e duradouras o que faz com que esteja sempre receptivo a ouvir novas opiniões.

Jace

Unknown disse...

Boa noite

Esta é a"minha praia" !
O mundo dos afectos, das emoçoes e das relaçoes interpessoais.

Estamos em mudança , claramente!

Mas o objectivo é sempre o mesmo , o desejo imenso de encontrar o outra , a tal alma gémea , o tal ombro, a outra metade que partilha connosco o bome o mau! É inevitavel este sentir.
O sr humano não nasceu para viver só!
Mas é tao fragil em termos afectivos que o medo de ser magoado condiciona-o totalmente.

E o curiosso é que aquele que amamos é aquele que mais nos magoa!Ironia!

Entendo o que defendm que o não conflito na relaçao não é bom presságio.
Posso partilhar a minha experiencia pessoal, uma relação de 18 anos onde perdurou o silencio Um silencio demolidor !
Para todos os proximos eramos um casal perfeito .No seio da casa tudo rolava.Só o meu coraçao chorava pela imposibilidade de d ialogar e pela apurada intuiçao d eque algo não estava bem.E não estava.A minha intuiçao levou-me a descoberta! E lá estavaa causa! Tudo era "perfeito" sem dialogos porque algo tinha de ser escondido.A outra relação que o meu marido manteve anos.

Como este testemunho haverá muitos!

Querem saber ao fim destes anos o que mais me doeu?
Não saber a VERDADE!
Posso vir um dia a sofrer d enovo mas que seja pela VERDADE1
Nao podemos obrigar o outro a amar-nos quando nao o sente mas temos o direito de saber!
E é na sinceridade, na verdade que deve assentar qualquer relaçao.
So a VERDADE da CONFIANÇA!!!
Os conflitos as discussoes são saudaveis animam nos reequacionamos a vida os sentires gera emoçoes sempre com o fim de avançarmos crescermos nos proprios e celebrarmos o Amor.

Obrigado pelo tema

Um beijo

Isamar