Acabado de ler o livro de Paula Izquierdo sobre a história de 21 mulheres radicais, todas elas famosas, focando especialmente a vertente sexual, não resisti a aqui deixar algumas passagens do seu prólogo que dão que pensar. Mulheres como Simone du Beauvoir, Anis Nin, Edith Piaf, Mata Hari, Joan Crawford, Catarina da Rússia, Virgina Wolf, Pauline Bonaparte, Janis Joplin, Sarah Bernhardt, Isabel I de Inglaterra, entre outras...
Passagens estas que são um belíssimo incentivo para nos envolvermos no livro em si e reflectirmos sobre o nosso posicionamento no mundo...
"O que há de viciada em sexo numa mulher que dá rédea solta à sua líbido? Os homens eram boémios, as mulheres eram putas. Porquê essa distinção que inclusivamente ainda hoje se mantém e se utiliza para classificar e rebaixar este tipo de mulheres?"
"Uma conduta sexual pode ser anormal para uma determinada época e moral. Séneca disse:«O que foram vícios são agora costumes». Será igualmente necessário acrescentar que também acontece o contrário. Basta pensar em Oscar Wilde ou em Berndard Shaw, cujos percursos de vida teriam sido infinitamente menos conturbados se tivessem nascido na Grécia clássica em vez de o terem feito na tradicional época vitoriana.
Moral, cultura e local de nascimento determinam indubitavelmente as possibilidades de liberdade sexual do indivíduo. Fala-se demasiadamente levianamente, sobretudo a propósito da vida sexual, de indivíduos doentes, e considera-se, também com demasiada frivolidade, pervertido ou perverso aquilo que é apenas diferente do que encaramos com normal".
"Foram mulheres com uma personalidade forte e uma maneira de ser que se impunha aos usos e costumes da época em que viveram. Ser "elas próprias" foi sempre uma tarefa árdua, sobretudo para aquelas que viveram durante a segunda metade do século XIX e a primeira do XX. Por exemplo, durante este período, a homosexualidade feminina era uma prática habitual, contudo, a dupla moral da altura obrigava a que as mulheres que queriam escrever sobre o tema o fizessem apenas se as teses que desenvolviam fosse uma condenação dessa prática sexual. Prática que, como disse, era relativamente corrente, entre outras coisas porque as mulheres entendiam a carnalidade, o desejo e o amor de uma forma diferente dos homens. A cultura libertina faz parte do ser humano, no entanto, excepto testemunhos escritos como ficção, , até depois da Idade Média são poucas as referências fidedignas que encontramos no que diz respeito ao comportamento das mulheres relativamente à sua sexualidade".
"Citando Thomas Bernhard: Quando uma mulher se torna demasiado forte, o homem tem vontade de a matar".
"O medo de «o que dirão» continua vigente no século XXI associado à nossa vida, de modo que são poucas as mulheres que não se sentiram vulneráveis, agora e sempre. Por isso, talvez tenha ainda maior importância o facto de algumas das mulheres de que falo em seguida não terem caído na armadilha da vulnerabilidade ou, peo menos, não pelo facto de seram mulheres.
Por isso, este livro pretende deixar um testemunho dos diferentes usos e hábitos de certas mulheres, ousadas, audazes e astutas, que viveram em momentos diferentes da História e que procuraram um lugar no mundo, um caminho a seguir, sem pudor nem complexos, umas vezes passando por cima do «o que dirão», e outras transgredindo as normas e pautas de actuação que lhes correspondiam, precisamente para que «dissessem», mas com motivos. Não se trata de julgar os comportamentos, apenas de indagar as diferentes formas de encarar a procura do prazer e de si mesmo.
A teoria é que quanto maior a cultura, maior a sofisticação e, por isso, maior a tortuosidade dos comportamentos para alcançar o tão desejado clímax. Veremos. A verdade é que foi só em 1970 que a Organização Mundial de Saúde classificou a dependência sexual como doença. Foi então catalogada como uma dependência semelhante ao vício do jogo, à toxidependência ou ao alcoolismo".
"William O. Douglas, presidente do Supremo Tribunal dos Estados Unidos, afirmou: A ideia de utilizar censores para eliminar os pensamentos de carácter sexual é perigosa. Uma pessoa sem pensamentos sexuais é anormal".
"Charlin Chaplin considerava que o seu pénis era a oitava maravilha do mundo, e alguma coisa certamente deveria ter já que este, ou seja, o seu falo, fascinou milhares de mulheres".
"Diego Rivera e sua mulher Frida Kahlo, na segunda parte do seu casamento, mantinham jogos de alcova com amantes diferentes. Relações que depois contavam um ao outro, num divertimento aparentemente admitido e cúmplice..."