domingo, 25 de janeiro de 2009

O luxo de sofrer

 

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(independentemente de quem possa ou não gostar da margarida rebelo pinto, aqui deixo esta sua reflexão que tanto tem de verdadeira como de real. é realmente um privilégio poder ter o luxo de sofrer…)

 

Podemos apaixonar-nos vezes e vezes sem conta pela mesma pessoa ? Chet Baker achava que sim: «Funny that every time I fall in love it´s always with you». Tony Parsons, produtor de televisão britânico que atingiu o estrelato do bestseller com o seu primeiro romance, Cenas da Vida de um Pai Solteiro, dizia que as músicas românticas nor tornam alérgicas à realidade. Talvez os dois tenham razão: o compositor quando vende a ideia de uma amor eterno e incondicional, uma espécie de prisão vitalícia para o coração que não consegue entregar-se a não ser a um único amor, e o escritor, habituado a lidar com o dia a dia de uma vida cheia de horários, de prazos e de contratempos.

Talvez só ame incondicionalmente quem se possa dar a esse luxo; quem não viva sufocado com hipotecas como espadas em cima da cabeça, quem não seja obrigado a cumprir objectivos hercúleos no emprego, quem não tenha três máquinas de roupa para fazer, estender, apanhar, dobrar e passar a ferro três vezes por semana.

A necessidade aguça o engenho e o instinto de sobrevivência ajuda-nos a encontrar e felicidade na adversidade, talvez por isso só sofra por amor quem se possa dar a esse luxo, quem tenha tempo para sofrer; qem tenha energia para chorar e um bom ouvinte a quem se possa lamentar dias a fio, enquanto os comuns mortais vão sobrevivendo como podem, demasiado preocupados com as contas para pagar;  o futuro dos filhos, as doenças crónicas dos pais, o fantasma da deflação, os impostos, a consulta no hospital que nunca mais chega, o fim-de-semana que é sempre curto, o feriado mais desejado, o dia do aumentos, as sonhadas semanas de férias num apartamento exíguo junto a uma praia sobrepovoada ondeo os dias são passados entre sandwichs de atum com alface e litros de refrigerante e de cerveja a discutir futebol com os amigos de sempre, enquanto as crianças se tentam afogar umas às outras em manobras aparentemente inocentes.

Afinal sofremos de amor porque podemos. Porque o país não foi invadido por um inimigo feroz, o território não sofreu a devastação de um tsunami nem vivemos na Faixa de Gaza. Sempre que uma vaga de destruição assola uma parte do globo, o espírito de reconstrução faz com que meses depois tudo se recomponha de tal forma que a desgraça seja esquecida no dia a dia e apenas lembrada nos manuais da história.

O tempo para sofrer também pode ser uma escolha. Toda a gente precisa de sofrer para se sentir viva, entre o sofrimento e o vazio, prefiro o sofrimento, disse Faulkner. É verdade que somos todos assim, mas existe um tempo para tudo e esse tempo não se pode eternizar e além disso só vale a pena apaixonarmo-nos sempre pela mesma pessoa se ela também viver apaixonada por nós. De outra forma, somos nós, com a nossa teimosia e obstinação cegas e surdas, que nos tornamos alérgicos à realidade e não às músicas que nos  embalam o coração nos serões de solidão.

Por estes momentos menos felizes, mais vale regressar ao Chet e ouvi-lo vezes sem conta, até nos sentirmos «on the sunny side of life».

 

Whenever it's early twilight 
I watch till the star breaks thru
Funny it's not a star I see
It's always you
Whenever I roam thru roses
And lately I often do
Funny it's not a rose I touch
It's a breeze caresses me
It's really you strolling by
If I hear a melody
It's merely the way you sigh
Wherever you are, you're near me
You dare me to be untrue
Funny each time I fall in love
It's always you

If a breeze caresses me
It's really you strollin by
If I heara a melody
It's merely the way you sigh
Wherevber you are, you're near me
You dare me to be untre
Funny each time I fall in love
It's always you

15 comentários:

Patrícia Manhão disse...

:)

Um Beijo, meu Amigo...

DoisaboresEle disse...

Sofrer para viver ou viver para sofrer?
Beijos saborosos

Shelyak disse...

Tive uns problemas técnicos com o blog pelo que, no meio da confusão, os comentários que aqui foram deixados - sempre tão simpaticamente - perderam-se.
Minhas desculpas...

Canuca disse...

Segundo ela, maior parte das pessoas n ama incondicionalmente, porque n tem tempo para sofrer...há quem escolha n sofrer ou pelo menos n chatear meio mundo quando sofre ou n dar a entender que sofre, ou tentar resolver esse problema em surdina...ter tempo para fazer o que for hoje em dia é um luxo, ter tempo para sofrer, para mim é uma perda de tempo...Bjos

Francisco del Mundo disse...

Prefiro-a como cronista a escritora...:D Quanto a amar e viver, tudo sem medos...
Abraço

Anónimo disse...

temos de passar por tal pra saber!

Sofá Amarelo disse...

Já li MRP e não achei diferente de outros escritores. Tenho o privilégio de a conhecer e de até ter feito a foto dela no livro «Artista de Circo». Este pensamento está perfeito mas ela tem muitos outros que também merecem reflexão.

O maior abraço!!!

t3resopolis disse...

Gosto mais do Marsipulami … mas pegando no tema, realmente só tendo tempo e dando-nos a essa luxúria… o poder dar “o nó”… na cabeça, é do tempo do Arroz de XV que temos o cobertor á nossa medida…
Tempo… aquela medidazinha que tanto nos foge pelos dedos… já me encontrei a fazê-lo, tal qual masoquista, interiormente.. é terrível…

Beijos violeta

Anónimo disse...

Obrigada.
Nunca o tinha visto desse modo.


Obrigada.

carpe vitam! disse...

Consigo conceber um amor incondicional inteligente, ou seja, uma pessoa pode amar outra aconteça o que acontecer, mas se esse amor não for correspondido por qualquer razão que seja, poder usá-lo como força anímica. é normal querermos estar com quem amamos, é inteligente perceber que isso nem sempre é o melhor, para nosso bem ou para bem de quem se ama. Também consigo conceber o amor como não sendo algo exclusivo a dedicar a apenas uma pessoa, mas algo que pode ser distribuído e multiplicado. Creio que a maior causa de sofrimento em relação ao amor é o sentimento de posse sobre quem se ama.
Concebo amar como sendo prender para libertar.

Cem disse...

beijo

Abssinto disse...

Amigo Shellyak! O Vitinho Little Sword continua a dar cartas, sim senhor! ele é o nosso Joe Dassin!;) Fico à espera que alguém disponibilize o video no iutube.

Abraços jazzisticos!

Su disse...

gostei de ler toda essa lucidez

jocas maradas

Anónimo disse...

é tão bom morrer de amor..e voltar a viver...
é desta forma que aprendemos a amr..e amr sempre cada vez mais de de várias maneiras, varios amores... E saiba que o unico que não pode ser traido..é nosso coração..Isso jamáis.....
Se for para morrer que seja de amor...né???

Eternity disse...

Nunca devemos perder uma oportunidade de amar... haverá algo mais intenso??? mesmo se acabamos quase sempre por sofrer??