segunda-feira, 23 de abril de 2007

E o sol não nasce para todos...

Uma estranha sensação acompanhou o meu regresso à igreja onde passei uma boa parte dos meus tempos de infância e juventude: catecismo, missas dominicais; baptismo, 1ª comunhão, crisma, profissão de fé. Voltava, desta vez a assistir e ao fim de bastantes anos, a uma missa, neste caso, do 30º dia. Não era um momento feliz. Naqueles anos já tão distantes, não questionava então o mistério da Imaculada Conceição, o Céu e o Inferno, a teoria evolutiva de Darwin, sexo como fim primeiro e último da procriação, a consequente interdição do uso do perservativo, o aborto, o divórcio... Agora, homem feito, tudo me parecia tão distante e desajustado. Olhava à minha volta e via as pessoas ajoelhadas, sentadas, de pé, agarradas a uma esperança que gostaria também de partilhar mas que a razão não mo deixava. Era uma população envelhecida. Fiquei impressionado. Tanto pelo que via como pela consciência da minha mortalidade. A meio da missa, a consagração, o ofertório. Pessoas com bandejas na mão - no passado, pequenos sacos - passavam em frente de todos nós a fim de receberem os donativos, dinheiro, que iriam contribuir para manter as despesas da igreja. No fim, juntaram-se perto do altar onde depositaram o respectivo resultado. Um sacristão pegou naqueles valores e guardou-os algures. Neste momento, tanta coisa que me passou pela cabeça. Eu estava ali como homem, já longe da minha juventude e focalizado em temas como o comportamento da condição humana, a justiça, igualdade entre homens e mulheres, não descriminação de raças, religiões ou preferências sexuais. E aí, lembrei-me das longas discussões que havia assistido na televisão e lido em jornais: pedir um recibo por pequenas quantias como um café, uma hora de estacionamento pago, um almoço. Mas assim deveria ser... O Estado, na sua ânsia de resolver os problemas de economia principalmente através de impostos, assim o obrigava. Haja controlo sobre toda a circulação de dinheiro. Pensei então: e neste caso ? como é ? não existe qualquer controlo ? Tax free ? Como é feita a declaração de todos estes valores? Onde está a igualdade ? Sabia que a Igreja, ainda nos nossos dias, estaria isenta de impostos mas não sabia até que ponto. Nunca me tinha preocupado grandemente. Tinha presente que, há algum tempo atrás, pouco, uma revisão havia sido feita às relações Igreja-Estado, em que esta isenção tinha sido alterada. Confesso que não era uma questão que me tivesse preocupado muito até aquele momento. Fiquei curioso e fui procurar entender. Li, pela primeira vez, o primeiro documento surpreendentemente resumido - concordata - que regulamentou as tais relações Igreja-Estado, assinado entre Portugal e o Vaticano, : concordata de 1940 com apenas 31 artigos. Lá estava, no artigo 8º, a tal isenção total de impostos. Pensava eu que, na tal alteração que se verificou posterioremente, as coisas teriam mudado. Assim não foi. Na revisão a que conduziu à concordata de 2004, no artigo 26º, refere que a isenção de impostos continua com excepção de actividades diversas das religiosas, tais como solidariedade social, educação, cultura e comércio. Mesmo depois de comentários elaborados a propósito de tal alteração, continuei a achar este artigo vago e revestido de alguma injustiça perante toda a sociedade em geral (a Igreja Reino de Deus está, sendo considerada uma religião, igualmente isenta de impostos pelos donativos e, consequente, respectivo controlo). A nossa constituição estabelece o nosso Estado como laico e aí não deveria criar situações de desigualdade no campo religioso, para não falar na nossa sociedade. Sei que os mecenas - com o seu devido valor - têm dedução de impostos em função das quantias ofertadas mas o caso de que falo parece-me bem diferente. Nem vale a pena falar aqui sobre o Vaticano, a sua riqueza incalculável e muito menos sobre a forma que a conseguiu... apetecia-me falar nisso mas aí esta minha divagação estender-se-ia por muitas e muitas mais linhas...Não sou contra a Igreja Católica que hoje representa 33 % da população mundial. Haja liberdade desde que não colida com a do nosso próximo. Sou sim contra situações de desigualdade que considero injustas.

1 comentário:

Anónimo disse...

E o Sol nasce para todos aqueles que respeitam os outros e neste caso justiça será feita para os que servem a Igreja de verdade e não para aqueles que utilizam a Fé e a boa vontade dos que acreditam que podem ajudar e para esses não concordo que se cobre impostos...