A propósito da reportagem que passou na RTP1 há uns dias atrás sobre swing, em 30 janeiro passado, a Sutra colocou, no seu blog, algumas questões e dúvidas que mereceram vários comentários, um deles (melhor dizendo, dois) meu. Tem sido, o swing, um assunto que, ocasionalmente, vem a tema de conversa por diversas vias, televisão incluindo, pela polémica de que se reveste: o mistério, o desconhecido, o pecado - apetecível ou não - a sede de muitos sonhos, a incógnita, o condenável, o desprezo, o desejo, o segredo, a vida dupla...
Por todos estes tantos sentimentos envolvidos, há tempos, e depois de ter lido um post da Luna que divagava sobre este mundo, resolvi dar também o meu pequeno contributo e de uma forma bastante genérica.
Desta vez, e depois da reportagem que referi acima e das questões levantadas pela Sutra e consequentes comentários, resolvi agora alongar-me um pouco mais, particularizando pontos e dúvidas que foram então levantados. Principalmente, questionava-se como seriam as reacções aos "nãos" com que, supostamente, alguns casais são confrontados perante convites por eles feitos, como seria aquele mundo em que se movem, quais os pontos de encontro, como se conhecem, como se sentiriam perante os mortais ditos normais...consideram-se superiores e daí o seu círculo tão fechado ou será que se consideram iguais às pessoas com que se cruzam no dia-a-dia ?
Em jeito de opinião,
eu diria que...
este nosso planeta terra onde vivemos é composto por muitos planetazinhos, cada um deles habitado por pessoas com as mesmas afinidades e interesses: temos o planeta do desporto, o planeta político, o planeta das artes, o planeta dos blogs, o planeta dos homos e, entre muitos outros, o planeta swing.
Porque todos estes planetas são constituídos por pessoas e, consequentemente, com a mesma hierarquia de necessidades tipo pirâmide de maslow, os sentimentos, os sentires, as reacções que neles são experimentados e vividos são igualmente idênticos; claro que falamos em contextos diferentes - de acordo com o planeta - mas, basicamente, são idênticos.
No planeta swing, um "não" é aceite diplomaticamente como mandam as regras, com um sorriso nos lábios mas com um sofrimento idêntico perante qualquer outro diferente "não"; no planeta swing, existem momentos de alegria e tristeza, verdade e mentira, querer e não querer, transparência e traição, partilha e ciúme; no planeta swing, os casamentos/relacionamentos sólidos tornam-se mais sólidos assim como os mais frágeis se tornam mais frágeis; no planeta swing, as pessoas seguras de si, que conhecem e convivem em paz com o seu "eu", deixam que os sonhos e fantasias lhe comandem a vida; no planeta swing, as pessoas não seguras de si próprias e que procuram uma saída, um remédio, uma solução para um mau relacionamente, são pura e simplesmente destruídas; no planeta swing, honesto e verdadeiro, o homem é igual à mulher; no planeta swing, não honesto e não verdadeiro, o homem não é igual à mulher.
eu diria que...
a segurança, perante as doenças transmissíveis, é vista de forma idêntica como em qualquer outro planeta: todas as precauções são tomadas de acordo com a maior ou menor consciência das pessoas envolvidas.
eu diria que...
os casais procuram-se basicamente na net - sites diversos, promovidos, na maior parte dos casos, por clubes fisicamente existentes ou não - onde se encontram anúncios de outros casais, ao contrário do passado em que predominavam os anúncios em jornais. O by word of mouth funciona igualmente embora a um nível bastante restrito. Os locais de encontro são diversos: inicialmente, podem ser em cafés para depois passarem a um jantar, a clubes, a casas particulares, se o encontro inicial tiver sido do agrado de todos; sim, de todos, porque das quatro pessoas envolvidas - assumindo que estamos a falar de dois casais - basta uma não se sentir confortável, e tudo acaba ali, no início. Quando do sexo em si, pode ser praticado em conjunto ou em separado, à vista ou não uns dos outros, no mesmo ou em diferente local.
eu diria que...
o planeta swing não se julga superior a todos os outros, a julgar pela sua conduta discreta e isolacionista; apenas sentem a necessidade de preservar a sua intimidade e a sua vida dupla, em face do julgamento fácil e arbitrário que a sociedade faz a tudo aquilo que não é considerado socialmente correcto (um pouco como "faz aquilo que eu digo e não aquilo que eu faço" - o planeta swing sabe o que vale o segredo, algo que se diz ao mundo inteiro mas em voz baixa); uma sociedade que condena o adultério mas que o pratica sistematica e naturalmente; uma sociedade que promove e alimenta revistas, publicidade, em que o sexo é nota dominante, seja a propósito de pasta de dentes ou esparguete; uma sociedade que dá conselhos sobre a melhor forma de um casal manter a chama acesa através de um sexo aliciante que passa, entre outras coisas, por fantasiar com terceiras pessoas, quando no acto. Mas, no real, já está errado, não é permitido.
eu diria que...
no planeta swing, encontram-se todos os tipos de classes sociais, todos os tipos de pessoas, sejam elas gordas ou magras, feias ou bonitas, educadas ou não, sensíveis ou insensíveis, verdadeiras ou falsas. Como em todo o lado, agrupam-se segundo estas características, preferências e afinidades. Quando esta análise é mal feita - por esta ou aquela razão - o resultado torna-se devastador.
eu diria que...
no planeta swing, também se fazem verdadeiras amizades.
eu diria que...
no planeta swing, ama-se o momento, ama-se o dia-a-dia, ama-se a vida; no planeta swing, enquanto se lá habita, vive-se, assim como se vive - é verdade - em tantos outros...
PS: Nota a alguns comentários sobre o Machismo do Homem Swinger e Bisexualidade
eu diria que...
no planeta swing, o homem - e porque estamos a falar do homem agora e apenas - vive uma procura por uma forma de estar e relacionamento que tenta romper - em termos sexuais -com regras mentirosas da sociedade e, também e principalmente, com uma cultura, gravada a fogo, que lhe vem desde o berço; uma procura que apenas é parcialmente conseguida em que, de fora, e não são poucas as vezes, permanece não só o sentimento de posse, leia-se machismo, sobre a mulher - estranho que pode parecer, não é? - mas também a possibilidade de uma bisexualidade masculina que apenas é excitantemente por ele (homem) bem vista quando se trata entre mulheres.
eu diria que...
o homem que vive em paz, tranquilo e seguro, que pratica a sua sexualidade seja ela qual for e cujos limites se confinam apenas ao seu puro prazer, que vê a sua parceira como um ser igual a si próprio e sem qualquer sentimento de posse, que tem prazer em dar prazer à mulher sem esperar nada em troca, a esse homem, eu chamaria o homem universal...